Entre Anjos,Pais e Companheiros


Sei que vim no teu caminho, predestinadamente.
Já éramos velhos conhecidos,
Mesmo quando nos olhamos nos olhos já percebemos isso
E quão afetuoso soou o primeiro toque da sua mão sobre a minha
Como um rei Midas a que tudo transforma em ouro
Transformaste-me em tua princesa
Dos contos de fadas de teu castelo, onde te fechavas em teu silencio.
Se me renunciou por algum tempo foi pela simples questão
De não estar ainda preparado para amar-me tanto como já previas.
Assustava-te a idéia de amar uma estranha!
Então sufocou aquela emoção tentando suportar o que o acaso houvera aprontado conosco.
Ter que aceitar-me acima do que tua condição lhe permitiu.
Mas quando conseguiste pegar em minhas mãos e sentir a doçura que plantei na tua vida
Foste o homem mais amado e honrado como qualquer outro jamais seria.
Plenamente nos regozijamos na candura de nossos momentos e nos fizemos confidentes e amigos.
Amigos pela eternidade toda.
Em teu leito de morte não te renunciei e prostrei-me aos pés de tua cama ouvindo teus últimos lamentos, tuas suplicas e as palavras de sabedoria que,
Somente eu sei, levaria pela minha vida afora.
Só senti aquele momento em que tive que deixar-te àquela laje dura e sem vida que em nenhum momento combinava com a tua alegria de ser.
Aqueles anjos de pedras, túmulos e monumentos tão imparciais a nós, pareciam estar no cenário errado. Mas eu sabia, era lá que eu devia deixar-te, assim deveria ser. Era o que todos faziam. Mas minha vontade intima era a de te enterrar numa caixinha de fósforos com um cobertorzinho por cima e alguma florzinha do nosso jardim sobre ela.
Igual como eu fazia quando enterrava meus animaizinhos que morriam, fosse ele um grilo ou uma ave.
Não sei se você lembraria do aroma das camélias e das magnólias do nosso jardim a noite, pois quantas e quantas vezes lá estivemos nas noites de verão.
É, o destino aprontou conosco velho amigo, me trouxe de longe no momento inoportuno.
Pousando-me em teu colo, para que aprendestes tanta coisa com a ingenuidade de uma criança àquela altura de tua vida.
Um velho homem e sua criança, sentados a varanda da casa olhando as estrelas, fitando aqueles fins de tarde e conversando doces fofocas, sobre passarinhos.
Então, creio que deixaste a dureza da tua vida para traz, pois estava ali, a falar de passarinhos e estrelas. A pegar bichinhos e pirilampos para me mostrar.
De mãos dadas com aquela menininha que nem soubestes de onde viera que tivestes que aceita-la.
Dei-te a companhia dos meus primeiros momentos de juventude e tu me destes dos teus últimos momentos de jornada.
Velho pai de terno e gravata e chapéu panamá!
Toda vez que encontro um velho de chapéu na rua ainda paro e dou um sorriso saudoso lembrando de ti.
Será que agora estas na companhia dos anjos? A falar bobagens?
Acho que no final das contas merecestes, pelo que presenciei.
Não te trocaria por nenhum outro e digo-lhe que poderia ter sido mãe ou amada, tanto faz. Mesmo assim eu voltaria e faria tudo novamente. Creio que Deus me colocaria novamente no teu caminho, pois Ele teve muitas razões.
O saldo disto?
Não sei quanto a você, mas quanto a mim,ganhei o melhor amigo que se pode ganhar e o melhor companheiro que se pode ter.
Foi por pouco tempo, mas que amor de eternidades vivemos!
Amo-te PAI.

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