Às Mulheres da minha vida!
Ontem foi aniversário da minha filha Vanessa. Fez 13 anos no dia 13.Somando os dois números temos 26 que por coincidência é o ano que minha avó materna e nossos ancestrais vieram da Ucrania para o Brasil,1926;fugindo de toda uma problemática de guerras e disputas territoriais da então Bielo Rússia.
Decidi ao acaso fazer uma comida igual a que cresci vendo minha mãe preparar. Toda a culinária Russa com aquele toque e colorido,a mistura do sabor doce com o salgado,a energia dos pratos substanciosos e nutritivos.Consegui me reportar a tempos muito longínquos e sem querer percebi que estava reverenciando meus ancestrais ao mesmo tempo que homenageava a nova geração representada pela minha filha Vanessa.
Então,num feedback percebi que várias gerações: a da minha avó, da minha mãe e a minha cresceram num contexto muito difícil e triste,fardo que carregamos emocionalmente durante estes anos todos.
Comecei a compreender a dureza e severidade com que fui criada e a dor arraigada em minha alma quando me recordava de coisas passadas. Acho que já nascemos nesse ambiente onde a tristeza foi um sentimento natural passado nas nossas gerações.
A tristeza do abandono do lar, do abandono da pátria tão amada, da dissolução da família, da perda dos entes queridos para a guerra que sempre foi tão impensada e sem sentido nenhum. Nascemos e crescemos acreditando que não deveríamos nunca chorar, que era preciso renunciar, a nós mesmas se preciso fosse. E essa dor toda hoje embalada pelo som triste desta musica russa que encontrei no youtube simboliza exatamente meu sentimento e o sentimento delas. Quase esquecemos “meu Deus” que éramos mulheres e não podíamos chorar nossos mortos, quase esquecemos que tínhamos que nos calar e carregar nosso fardo diário sob a neve densa sem alimento e sem nenhuma mão amiga, quase esquecemos que tivemos que fechar a porta de nossos lares, apagar a chama de nossos fogões e levar nas mãos as cinzas de nossos sonhos espalhadas ao vento frio polar em busca de uma terra que nem sequer conhecíamos mas que agora seria nosso lar para sempre. Esquecemos também que a dor que carregamos por tantos anos em nossos corações foi a dor de entregar ao mar nossos filhos e filhas, nossas irmãs amadas e nossos maridos. Esquecemos o quanto foi duro trabalhar a terra estranha que recebemos com nossos filhos agarrados a nossas saias chorando de fome enquanto nossas mãos se escarneciam no cabo da enxada. Aprendemos a não alimentar sonhos e a ser duras com os sentimentos. Porque a vida foi dura conosco e não tivemos chance de aprender, aprender a perdoar o acaso, a perdoar o que não se entende jamais, perdoar o que nunca ninguém foi capaz de nos explicar. Porque a guerra não é algo que se possa compreender, a desumanidade não é algo fácil de se aceitar. E assim passaram-se pelas gerações esta triste mensagem que chegou até mim.
Desta forma ontem saudei, estas mulheres guerreiras, que deixaram secar suas almas e pela primeira vez compreendi minha mãe e consegui perdoa-la. Perdoa-la por não ter tido a chance de compreender o que eu compreendi. Perdoa-la e admira-la pela sua fortaleza, ainda que intransponível naqueles seus incríveis olhos azuis. Perdoar tudo que ela poderia ter sido mas que não conseguiu transpor como eu estou fazendo agora.
E tenho algo a dizer a vocês todas hoje. Estou decretando que tudo isto chegou ao fim e que este triste legado acaba hoje. Acaba porque consegui transpor esta barreira. Acaba porque o legado que vou deixar a minha filha é outro. Vou ensina-la que é possível ser feliz, vou ensina-la a gritar aos quatro ventos seus sentimentos, vou ensina-la a se orgulhar de ser a mulher que ela é. Tenho que informa-las que morre comigo esta geração de tristeza, este fardo tão pesado. Na minha mente só ficará o teu nome mãe: Zuleima, que aliás é o nome de uma valsa. Zuleima a valsa da minha vida, que seja de agora em diante a valsa da alegria, do recomeço. Pois em minha casa o fogão vai estar sempre com as chamas acesas, vou brindar a vida todos os dias e vou abraçar meus filhos ao som da tua valsa. E vamos cear ao redor da mesa de mãos dadas e quero envelhecer e encher minha casa de netos. Quero dizer a vocês também mulheres da minha vida, que aprendi e aprendo com vocês todos os dias: minha avó, minha mãe, minha filha. Acho que parecemos aquelas bonequinhas russas mesmo, que se tiram umas de dentro das outras. As primeiras são ocas mas a ultima contem todas e é maciça. Essa é a Vanessa, que levará todas nós no seu coração, toda a nossa força, todos os nossos gritos abafados, todos os nossos sonhos desfeitos que ela irá transformar em energia de vida, em alegria e realização ao som da nossa música mãe. Sempre ao som da nossa musica, Zuleima e não mais de nossas lágrimas.
Decidi ao acaso fazer uma comida igual a que cresci vendo minha mãe preparar. Toda a culinária Russa com aquele toque e colorido,a mistura do sabor doce com o salgado,a energia dos pratos substanciosos e nutritivos.Consegui me reportar a tempos muito longínquos e sem querer percebi que estava reverenciando meus ancestrais ao mesmo tempo que homenageava a nova geração representada pela minha filha Vanessa.
Então,num feedback percebi que várias gerações: a da minha avó, da minha mãe e a minha cresceram num contexto muito difícil e triste,fardo que carregamos emocionalmente durante estes anos todos.
Comecei a compreender a dureza e severidade com que fui criada e a dor arraigada em minha alma quando me recordava de coisas passadas. Acho que já nascemos nesse ambiente onde a tristeza foi um sentimento natural passado nas nossas gerações.
A tristeza do abandono do lar, do abandono da pátria tão amada, da dissolução da família, da perda dos entes queridos para a guerra que sempre foi tão impensada e sem sentido nenhum. Nascemos e crescemos acreditando que não deveríamos nunca chorar, que era preciso renunciar, a nós mesmas se preciso fosse. E essa dor toda hoje embalada pelo som triste desta musica russa que encontrei no youtube simboliza exatamente meu sentimento e o sentimento delas. Quase esquecemos “meu Deus” que éramos mulheres e não podíamos chorar nossos mortos, quase esquecemos que tínhamos que nos calar e carregar nosso fardo diário sob a neve densa sem alimento e sem nenhuma mão amiga, quase esquecemos que tivemos que fechar a porta de nossos lares, apagar a chama de nossos fogões e levar nas mãos as cinzas de nossos sonhos espalhadas ao vento frio polar em busca de uma terra que nem sequer conhecíamos mas que agora seria nosso lar para sempre. Esquecemos também que a dor que carregamos por tantos anos em nossos corações foi a dor de entregar ao mar nossos filhos e filhas, nossas irmãs amadas e nossos maridos. Esquecemos o quanto foi duro trabalhar a terra estranha que recebemos com nossos filhos agarrados a nossas saias chorando de fome enquanto nossas mãos se escarneciam no cabo da enxada. Aprendemos a não alimentar sonhos e a ser duras com os sentimentos. Porque a vida foi dura conosco e não tivemos chance de aprender, aprender a perdoar o acaso, a perdoar o que não se entende jamais, perdoar o que nunca ninguém foi capaz de nos explicar. Porque a guerra não é algo que se possa compreender, a desumanidade não é algo fácil de se aceitar. E assim passaram-se pelas gerações esta triste mensagem que chegou até mim.
Desta forma ontem saudei, estas mulheres guerreiras, que deixaram secar suas almas e pela primeira vez compreendi minha mãe e consegui perdoa-la. Perdoa-la por não ter tido a chance de compreender o que eu compreendi. Perdoa-la e admira-la pela sua fortaleza, ainda que intransponível naqueles seus incríveis olhos azuis. Perdoar tudo que ela poderia ter sido mas que não conseguiu transpor como eu estou fazendo agora.
E tenho algo a dizer a vocês todas hoje. Estou decretando que tudo isto chegou ao fim e que este triste legado acaba hoje. Acaba porque consegui transpor esta barreira. Acaba porque o legado que vou deixar a minha filha é outro. Vou ensina-la que é possível ser feliz, vou ensina-la a gritar aos quatro ventos seus sentimentos, vou ensina-la a se orgulhar de ser a mulher que ela é. Tenho que informa-las que morre comigo esta geração de tristeza, este fardo tão pesado. Na minha mente só ficará o teu nome mãe: Zuleima, que aliás é o nome de uma valsa. Zuleima a valsa da minha vida, que seja de agora em diante a valsa da alegria, do recomeço. Pois em minha casa o fogão vai estar sempre com as chamas acesas, vou brindar a vida todos os dias e vou abraçar meus filhos ao som da tua valsa. E vamos cear ao redor da mesa de mãos dadas e quero envelhecer e encher minha casa de netos. Quero dizer a vocês também mulheres da minha vida, que aprendi e aprendo com vocês todos os dias: minha avó, minha mãe, minha filha. Acho que parecemos aquelas bonequinhas russas mesmo, que se tiram umas de dentro das outras. As primeiras são ocas mas a ultima contem todas e é maciça. Essa é a Vanessa, que levará todas nós no seu coração, toda a nossa força, todos os nossos gritos abafados, todos os nossos sonhos desfeitos que ela irá transformar em energia de vida, em alegria e realização ao som da nossa música mãe. Sempre ao som da nossa musica, Zuleima e não mais de nossas lágrimas.
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